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8 MARÇO, 2022

ALDE

As mulheres na política

No passado dia 8 de Março de 2022, decorreu no “Vinyl”, em Lisboa, a primeira conferência do ALDE, com o tema “As mulheres na política”.

O ALDE individual members tem como missão a divulgação do liberalismo, sem afiliações partidárias, tendo o primeiro debate sido moderado por Maria Helena Evangelista e contado com a presença de Cecília Meireles e Ossanda Liber.

Conhecida da política nacional, Cecília Meireles, é jurista, licenciada em direito pela Universidade de Coimbra, possui um MBA em gestão pela universidade do Porto, foi secretária de estado do turismo, membro da Assembleia Municipal do Porto, membro da Assembleia de Freguesia de Ramalde e deputada da Assembleia da República Portuguesa entre 2009 e 2022.

Já Ossanda Liber, viveu em Luanda até 1999 altura em que se mudou para Paris, onde morou até 2001. Retomou o curso de direito em Coimbra em 2004 e tem formação na área audiovisual sendo empresaria de profissão. É fundadora do movimento “Somos todos Portugal”, foi candidata à presidência da CML nas autárquicas de 2021 e foi vice presidente do Partido Aliança, do qual entretanto se desvinculou.

 

O que leva as mulheres a entrar na política

Para Cecília Meireles, a sua dedicação à política não foi planeada e não teve como foco a ocupação de cargos, mas sim uma vontade de alterar aquilo com que não concordava. Considera que, para alterarmos algo na sociedade, é necessário envolvimento. A filiação na política acontece em 1996, no final do cavaquismo, devido à vontade de aumentar a liberdade e noção de que era possível fazer melhor do que até ali tinha sido feito.

Acredita que se fala hoje muito de igualdade, mas pouco de igualdade de oportunidades, tendo sido a procura pela recompensa do mérito, a sua principal motivação. Cecília relembra que nos esquecemos que o principal elevador social, a educação, esteve “avariado” devido a dois anos totalmente anómalos no sector, sendo os mais desfavorecidos que pagam a maior factura.

No que respeita ao sexo feminino, rejeita generalizações na medida em que acredita serem caricaturáveis, mas admite que as mulheres são mais concretas e menos doutrinarias, duas qualidades que fazem falta à política.

Por sua vez, e ao contrário de Cecília, Ossanda admite que sempre quis fazer política. Tendo porém nascido em Angola, país que padece de uma disputa política sem fim à vista, a família teve um papel importante na negação dessa mesma vontade, acabando por se dedicar à família e negócios e sem nunca perder a vontade de contribuir para a sociedade.

Chegada a sua altura de contribuir, considera que um político não pode viver da política e que, para tal, tem de ter condições financeiras que garantam a sua independência. O seu processo de entrada na política activa fez-se naturalmente e entendeu existir um défice de pragmatismo e de soluções para os problemas reais, o que a levou a estudar a lei eleitoral, criar um movimento cívico e apresentar a sua candidatura.

 

A existência de poucas mulheres na política

As mulheres também se interessam por política mas dentro da política têm oportunidades diferentes, considera Cecília. Porém, se antigamente era estranho uma mulher política, hoje em dia já o deixou de ser e a representação do país nos órgão políticos é fundamental, seja por homens e mulheres de diferentes idades e geografias.

Acredita que a política tem os mesmos defeitos corporativos que outras associações têm, mas os problemas não residem na entrada ou na militância, mas na tendência para a reprodução e perpetuação do mesmo modelo. Estando a política cada vez mais agressiva e polarizada, assistimos a um fenómeno quase futebolístico da política que nos afasta a todos e há que reduzir o tom e aumentar o pragmatismo, o que considera uma abordagem mais feminina.

 

A hostilidade da política às mulheres

As convidadas dividem-se, na medida em que para Cecília a política não é um meio hostil, mas é um meio corporativo e para Ossanda, a existência de menos mulheres em postos visíveis, ocupando porém a retaguarda política, revela alguma hostilidade.

Na opinião de Ossanda, a hostilidade deve-se à incompatibilização do tempo familiar com o grau de exigência exigido pela política activa e acredita que o grau de disputa constante requer uma pré disposição, caso contrário a sobrevivência em política não é possível. As mulheres que vingam no meio são as que têm estruturas familiares mais leves, acredita Ossanda.

Para uma mulher política com família, só com logística e organização e muita coragem é possível conciliar ambas as vidas. Sendo africana, Ossanda acredita que a cultura é fundamental e faz a diferenciação entre a cultura africana e a europeia, na medida em que na Europa se faz tudo mais tarde o que apenas permite que uma mulher com mais idade se inclua na política activa.
Ossanda ressalva que homens e as mulheres não são iguais, mas sim complementares e que as características de ambos fazem falta à sociedade.

 

A vida familiar e a cultura da sociedade

Sendo a política feita em part time, em jantares, aos fins de semana e muito espalhadas geograficamente, a vida familiar é um impedimento, acredita Cecília que admite igualmente que existem mais homens disponíveis a fazer o sacrifício de ausência. É importante relembrar que a maneira como a sociedade olha para uma mãe separada dos filhos ou um pai separado dos filhos, não é igual.

 

Um partido liderado por uma mulher

Tendo o CDS sido liderado por uma mulher, Cecília Meireles refere que notou uma grande diferença especialmente na organização da previsibilidade, o que é importante na conciliação da vida política com a privada.

No entanto, Ossanda acredita é preciso deixar de lado a vitimização e que se as mulheres esperarem pelas oportunidades, elas não vão acontecer, devendo por isso forçar por mérito e conquista, sem receios, até a mulher se tornar imprescindível no contexto político.

 

A lei das Quotas

Na altura da votação, Cecília assumiu-se como contra a Lei das Quotas e não se arrepende da decisão na medida em que acredita que este movimento se consegue de forma muito mais estruturada e à mesma velocidade sem a existência das mesmas. Acredita que a lei que teve a virtude de aumentar artificialmente o número de mulheres, não o fez por mérito e por essa razão o crescimento estagnou. A solução para os problema actuais reside nas mulheres e na sua luta, para a qual não basta a sua indignação, sendo necessária a sua desinibição

Na opinião de Ossanda, as quotas foram e são positivas, dando como exemplo a sua própria experiência eleitoral e no facto da lei a ter “obrigado” a procurar mulheres competentes para preencher a lista. Admite que as quotas não aumentam a qualidade do trabalho, mas que as pessoas a que os partidos recorrem para preencher vagas são têm já propensão para a vida política. Acredita que os homens têm confiança na capacidade de trabalho feminina, mas não confiam inteiramente nas mulheres e que por isso é necessário criar oportunidades.

 

Escrutínio Político, diferenças entre mulheres e homens

Tanto Cecília como Ossanda concordam que o escrutínio, tem sempre a ver com os estereótipos criados e que não é saudável o mundo político discutir, por exemplo, a indumentária feminina, mas que faz parte da inclusão das mulheres neste meio, é uma questão de liberdade individual e é preciso lidar com naturalidade.

Sendo os partidos meios corporativos e existindo uma certa repetição sistemática de processos, ocorre um afastamento natural das mulheres que deve ser contrariado.

 

Diferenças na liderança masculina ou feminina

Existem vários modelos de liderança, mesmo entre lideranças masculinas, acredita Cecília, que também afirma existirem diferenças entre a liderança feminina e masculina o que remete ao papel que as mulheres adquirem na sociedade.

Geralmente vemos mulheres nas áreas sociais e negócios estrangeiros enquanto as áreas da defesa ou negócios estrangeiros são geralmente masculinas. Enquanto as mulheres são mais observadoras e mais empáticas, os homens são mais centrados na competição e isso tem papel na liderança

A opinião é partilhada por Ossanda, que distingue igualmente os tipos de liderança mas não acredita que a diferença seja negativa, mas sim complementar, ressalvando o instinto e capacidade de antecipação próprios das mulheres. A capacidade de antecipação permite evitar situações de conflito sendo esta uma qualidade fundamental em qualquer meio, incluindo o político.

 

Uma palavra de incentivo a todas as mulheres

Cecília acredita que não nos podemos deixar de interessar e deixa uma frase de incentivo: “vale a pena”. Vale a pena lutar por aquilo que acreditamos e fazer aquilo que nos faz feliz em função do que a sociedade vê como habitual. Acima de tudo devemos ser quem somos, e fazer aquilo que achamos que está correcto .

A mensagem é partilhada por Ossanda que relembra que, na verdade, não há nada que impeça as mulheres de serem parte activa e que os tempos em que foram impedidas de estudar e não tinham capacidade intelectual já passaram. Que as mulheres são hoje patriotas e com capacidade para aceitar o desafio e vingar no mundo político e para quem gosta da luta, das causas, de disputar ideias e de contribuir para o seu pais e para a sociedade, fazer parte do movimento é uma grande satisfação.

Junta-te a nós e luta ao nosso lado!

Pela construção de uma sociedade baseada nos princípios liberais fundamentais da liberdade, da democracia, do Estado de direito, no respeito pelos direitos humanos e pela solidariedade.