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4 MAIO, 2022

ALDE e LAD

O Estado da Educação em Portugal

Foi num ambiente de grande descontração que decorreu o encontro ALDE/AIM sobre o Estado da Educação na “The House of Hopes and Dreams” no dia 4 de Maio de 2022.

O encontro foi moderado pelo conhecido matemático Jorge Nuno Silva. Jorge Nuno Silva possui um PhD na universidade de Berkeley, tendo focado a sua investigação na teoria de jogos e história da matemática.

Os dois convidados dispensam apresentações. Susana Peralta, conhecida Professora da NovaSBE, tem um PhD na Université Catholique de Louvain, tendo enfatizado a sua investigação ao longo dos anos na política fiscal assim como na economia da pobreza, sendo uma das mais reconhecidas personalidades da área a nível mundial. Nuno Crato é também ele matemático e doutorado na Universidade do Delaware. Nuno Crato tem uma experiência ímpar no ensino, tendo lecionado em Portugal, Itália e Estados Unidos, do ensino escolar ao universitário. Como matemático, Nuno Crato especializou-se em métodos estocásticos com várias aplicações nomeadamente no mercado financeiro. Adicionalmente, foi ministro do governo de Pedro Passos Coelho, sendo conhecidas as suas reformas de enfoque no modelo de avaliação, tendo a subida de Portugal no ranking PISA confirmado o sucesso das suas políticas educativas.

 

O que mudou na educação desde Abril de 1974?

O que mudou na educação desde a revolução de Abril marcou o inicio da discussão. Para Nuno Crato a mudança é obvia e notória. Portugal passou de 3 anos de escolaridade obrigatória para 12, o números de universidades multiplicou-se (referência ao exemplo que apenas existiam à data da revolução duas universidades de direito em Portugal). No entanto para Nuno Crato a mentalidade do Estado novo ainda persiste de alguma forma, nomeadamente no elevado centralismo e peso do Estado na educação. Tal opinião é corroborada por Susana Peralta que reforça a falta de autonomia das escolas, dando ambos os convidados como exemplo a contratação escolar.

 

Autonomia das escolas e avaliação

Para os convidados o sistema de educação em Portugal está demasiado centrado no Estado, existindo “um sistema centralizado de rotação de Professores”. Sendo o currículo a peça central do modelo educativo, o Estado deve acima de tudo medir os resultados, dando maior autonomia às escolas na forma como querem conduzir as suas atividades. Neste particular, Nuno Crato relembra que na Europa apenas dois países não têm dados acerca de qual a evolução dos resultados durante a pandemia, Portugal e Espanha. Para o ex-ministro da educação, a Holanda é um exemplo neste particular, sendo um modelo educativo que consegue avaliar em cada momento qual o estado do seu ensino. Para Nuno Crato o país não gosta de ser avaliado porque todos nós estamos habituados a um “Estado patrão”, herança que nos foi deixada por 48 anos de ditadura Salazarista. A importância da avaliação foi salientada através do paralelismo com uma frase mítica de John Adams, pois “é obrigação dos Estados democráticos fornecer informação”.

Concretizando a evolução de Portugal nos rankings e na avaliação, a viragem do século e 2015 marcou a retirada de Portugal dos últimos lugares dos rankings. Esta evolução tanto em Portugal como em Espanha, foi feita com uma diminuição do valor gasto em educação por aluno, não existindo de todo uma proporcionalidade direta entre ambos os indicadores. Sendo mais concreto, o ex-ministro da educação lembrou os fracos resultados de Portugal nos testes Teams em 1995, onde apenas o Irão e a Islândia ficaram pior classificados que Portugal. O ano 2000 marcou a má entrada de Portugal nos teste PISA, onde Portugal apenas ficou melhor classificados que 3 países. Este mau ponto de partida foi sendo melhorado com a qualidade de ensino e introdução progressiva dos exames, nomeadamente através da ministra Maria do Carmo Seabra. Prova desde êxito português é que em 2015, no PISA, Portugal ficou acima da média da OCDE tendo chegado inclusivamente a superar a Finlândia, caso paradigmático do sucesso educativo no início do século (atualmente a Estónia é considerado o benchmark em termos de educação).

Apesar dos avanços alcançados, Nuno Crato considera que desde 2015 tem existido uma deterioração do ensino em Portugal, nomeadamente através da diabolização da avaliação e promoção de uma cultura de facilitismo. Neste momento, e apenas em 4 anos, Portugal passou a estar abaixo do nível registado em 2012 nos testes PISA, tendo-se verificado um aumento das diferenças entre high e low performers.

 

Caso Família Mesquita Guimarães

Para Susana Peralta, e relembrado o caso da família Mesquita Guimarães em que 2 alunos foram reprovados por não assistirem às aulas de cidadania e desenvolvimento, o ensino e a estrutura deve ser para todos, pelo sendo que os alunos não podem ser instrumentalizados pelo sistema nem pelos próprios pais. De acordo com a Professora da Nova SBE, há sempre coisas que podemos concordar ou discordar na escola, mas temos de respeitar alguns valores básicos societários, tudo sem instrumentalizar. Esta opinião foi de resto muito corroborada por Pedro Castro, conhecido autarca liberal que afirmou “eu preciso que essa cadeira seja dada porque não quero que outros passem por aquilo que passei”.

 

Modelo educativo

Um dos temas abordados trazidos à discussão por Pedro Janeiro, foi o papel do modelo educativo perante as novas formas de aprendizagem, nomeadamente o Youtube e os Massive Open Online Courses, também conhecidos por MOOC. Para ambos os convidados, ferramentas como o Youtube são complementares, mas não podem substituir integralmente a aprendizagem clássica de matérias como a Matemáticas ou o Português. Apesar de neste momento se ensinar da mesma forma que se ensinava antigamente, o nosso cérebro mantém as características, pelo que nesta fase estas ferramentas devem ser encaradas como complementares e não como “core”.

 

Esperamos ver-vos em futuras edições das conversas ALDE/AIM, e que este encontro possa ter contribuído para a construção de um país melhor.

Junta-te a nós e luta ao nosso lado!

Pela construção de uma sociedade baseada nos princípios liberais fundamentais da liberdade, da democracia, do Estado de direito, no respeito pelos direitos humanos e pela solidariedade.