Os tradicionais inimigos da liberdade

“Tudo o que a Iniciativa Liberal tem dito, ideado e feito é de meridiana clareza de horizontes. Primeiro, é um grupo que integra ativamente a civilização liberal, isto é, tanto quer derrubar eventuais muros de Berlim, como condena a invasão russa da Ucrânia.

Segundo, pertence a uma família europeia de cerca de meia centena de partidos que tanto é oposição aos conservadores, no Reino Unido, como governa em coligação com os socialistas e os verdes, em Berlim.

Liberal não é um nome sem conteúdo, mas a terceira família política europeia, ideologicamente consolidada, conforme o Manifesto de Oxford, de 1947. Isto é, não pertence à direita do PPE, nem à esquerda dos socialistas e marcou distâncias genéticas face aos neoliberais economicistas do pós-guerra. Tem, como principais inimigos, a desordem, a pobreza e o medo, conforme as principais palavras do manifesto inicial, e orgulha-se de ter sido um liberal, William Beveridge, a estabelecer o plano do Estado Social, ou “Welfare State”, o modelo de intervencionismo social instaurado pelas democracias liberais na segunda metade do século XX.

O problema concorrencial da Iniciativa Liberal é que o espaço português do liberalismo político e económico é compartilhado pelo PS, PSD e CDS, tal como o do liberalismo de costumes está repartido com o PS, o PSD e certa esquerda pós-revolucionária. Finalmente, acrescente-se uma questão de imagem mal resolvida pela Iniciativa Liberal: o da gestão do Estado Social e do aparelho de Estado, em nome da justiça social e, consequentemente, do princípio da igualdade. Enquanto o português comum, moldado pela opinião dominante do situacionismo, não perceber que quem fundou o Estado também dito de Bem-Estar foram os liberais e não Lenine, Estaline ou Trotsky, continuarão os equívocos.

Se a Iniciativa Liberal acabou com o fantasma criado pela narrativa de esquerda e dos reacionários contra o inimigo liberal, falta informação sobre uma das melhores conquistas da democracia liberal do Ocidente europeu: a proteção contra os tradicionais inimigos da liberdade, isto é, a intolerância, o fanatismo e a ignorância. A justiça sempre foi, desde os antigos gregos, tratar desigualmente o desigual, no de cada um conforme as suas possibilidades e a cada um conforme as suas necessidades.”

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